quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Fui atropelada...

Não me recordo bem que idade tinha, mas devia de andar no 3º ou no 4º ano de escolaridade. Naquela altura, eu ia e vinha da escola a pé. Como era aluna da tarde, ia sozinha e costumava vir com o resto do pessoal ao fim do dia. O percurso era feito a pé. A escola era relativamente perto, cerca de 1 km, e não havia transportes (estes chegaram bem mais tarde). Era costume. Não havia os perigos que hoje sentimos. Assim, eu almoçava e lançava-me ao caminho. Depois das aulas vinha com o pessoal da escola. Não que fossem meus amigos, mas passavam em frente à minha casa.
 
Numa dessas vezes, eu vinha do outro lado da rua e precisava de atravessar. Lembro-me perfeitamente de pensar: tenho de ter em atenção aos carros! Mas eu já dominava o caminho. Achei que a estrada era minha e atravessei. Não fiz o que já tinha aprendido: olhar para um lado e depois para o outro, voltar a olhar e, em segurança atravessar. Nada disso. Atravessei sem olhar. Lembro-me de, pela minha visão periférica, ver um carro a chegar e pensar que ele ia parar e ia-me deixar passar. Ainda hesitei um pouco, mas avancei...
 
Só me recordo de sentir uma pancada muito forte no meu lado direito e ter voado alguns metros e ter aterrado de rabo. Ouvi gritos e, de repente estava rodeada por pessoas. O que se passa? O que é que aconteceu? Estás bem? Precisas de alguma coisa? Eram tantas as perguntas que eu já não sabia se estava zonza da queda ou das perguntas. O senhor que me atropelou estava muito preocupado, queria me levar a casa. Nãooooooooo!!!!!! A minha mãe tinha-me dito dias antes que eu não podia aceitar boleia de estranhos. O homem insistia e eu dizia que não. Mas ele continuava e então eu desatei a chorar. Ele já não sabia o que dizer nem o que fazer e eu só chorava que queria ir para casa... a pé e sozinha. Falta dizer que o acidente aconteceu a menos de cinquenta metros de casa. Quando me acalmei disse ao homem que morava já ali, mas que não ia entrar no carro dele. Finalmente ele percebeu a mensagem e disse que ia de carro atrás de mim, mas que depois ia a minha casa. E lá fui eu com o homem a seguir-me. Entrei no prédio e ele veio atrás de mim. Àquela hora a minha mãe ainda não tinha chegado a casa, mas a surelina já devia estar, porque ela tinha aulas só de manhã. Bati à porta. Ficamos à espera. A moça demorava a atender a porta, porque estava sempre a ver tv. Quando abriu ficou a olhar para mim. Eu desatei a chorar. O homem explicou o que aconteceu. Levei um raspanete. À noite o homem voltou para falar com a minha mãe e ver se estava tudo bem comigo e a explicar-se: é que ele também pensou que eu ia parar... Fartou-se de me elogiar, no sentido em que eu não queria entrar no carro dele.
 
Eu até estava bem, mas o rabiote estava dorido. Apesar de tudo, senti-me bem: foge, fui atropelada!!!! Isto não era para qualquer um!!!! Por uns dias fui a heroína do prédio....

O prédio....

O prédio faz parte dos lugares mais importantes e que mais me marcaram na minha vida. Eu não morava no prédio, mas nas traseiras do mesmo. O prédio era constituído por dois edifícios: o prédio propriamente dito e as traseiras, que eram constituídas por duas casas geminadas, morando eu numa delas.

O prédio tinha dois andares e dois apartamentos em cada andar. Apenas as famílias que moravam no rés do chão tinham filhos pequenos, que brincavam connosco. As famílias do ultimo andar, tinham filhos já crescidos e as do meio, eram aquelas senhoras que já vos falei: solteiras.

Nós não brincávamos apenas com os miúdos do prédio (inicialmente três rapazes e três raparigas), brincávamos também com os miúdos da confeitaria, que ficava a poucos metros do prédio, com os miúdos da loja das tintas, que ficava quase em frente. Às vezes, brincávamos com miúdos de mais longe, mas era mais difícil .
 
Quando estávamos todos, éramos muitos, mas era raro, porque os miúdos da confeitaria tinham pouca liberdade para estar connosco, porque o pai não deixava, uma vez que eles tinham que ajudar no negocio. Estávamos mais juntos, no tempo de aulas (às vezes fazíamos os trabalhos de casa na casa um dos outros) ou nas férias.
 
Eu era a mais pobre deles todos. Não tinha nem metade das coisas que eles tinham, mas era uma criança muito feliz. Gostava muito de brincar. Aliás, quando penso na minha infância é a minha primeira recordação: eu gostava muito de brincar.
 
Mas a que brincávamos nós? Já vos falei que imitávamos as séries que víamos na tv, mas fazíamos mais coisas. O que eu gostava mais era quando brincávamos às casinhas. Eu não tinha brinquedos, por isso tinha de brincar com os brinquedos dos vizinhos. Mas naquela altura, nós éramos mesmo amigos e partilhávamos tudo. Então como fazíamos? Depois de tomarmos o pequeno almoço, íamos para o ponto de encontro: no fundo das escadas da parte detrás do prédio. Quando alguém demorava, íamos bater à janela do quarto deles. Eu, quase sempre, era a primeira a chegar. Depois de estarmos todos reunidos, despejávamos o saco dos brinquedos. Era um saco do lixo muito grande, cheio de brinquedos de todos (exceto meus, que não tinha). Fazíamos uma roda e despejávamos o saco no meio. Fazíamos o pim-pam-pum e cada um escolhia um brinquedo. Depois com os brinquedos que tínhamos escolhido, construíamos a nossa casinha e as brincadeiras. Os brinquedos eram, sobretudo, material de cozinha, bonecos, roupa. Usávamos roupa da vizinha que quando era solteira ia aos bailes, sapatos com tacão e vestíamos os bonecos com roupa de bebé que já não era precisa. Com terra fazíamos papas, café, bolos. Era o máximo. Às vezes, os gatos e os cães entravam nas nossas brincadeiras. Por vezes, andávamos de bicicleta, patins, skate. Já vos disse que não tive nada disso, mas sei andar nisso tudo, porque os vizinhos eram uns medricas e eu, como era uma Maria-rapaz, andava nas coisas deles.
 
Eu e a minha irmã, éramos as únicas que andávamos na escola pública. Os restantes vizinhos andavam todos no mesmo colégio privado. Era um colégio de freiras. Recordo-me de, por duas vezes, ter ido ver cinema nesse colégio. Foi uma das vizinhas que me  convidou. O colégio era muito bonito, parecia uma mansão.
 
Toda a vida eu desejei também morar num dos apartamentos do prédio. Eu só queria morar numa casa "a sério" como os meus vizinhos. Cada um deles tinha o seu quarto, tinham casa de banho, tinham varanda, não chovia lá dentro. Ai quem me dera!!! A minha casa, como era geminada com outra casa estava encostada a uma garagem, só tinha uma janela. Era a janela da sala. Dava para ver a rua. As restantes divisões tinham uma claraboia, a única entrada de luz. Inicialmente, dividia o quarto e a cama com a surelina, mas com a morte do meu pai, passei a dormir com a minha mãe. A casa de banho era minúscula. Nos dias de chuva, era um horror. Volta e meia, entrava água como se alguém estivesse a lançar baldes de água lá de cima. Ficávamos com tudo molhado. Uma vez, a meio da noite, tivemos de ir dormir a casa da vizinha. Eu vivia um terror quando começava o inverno. Mas apesar de tudo, eu fui muito feliz naquela casa. Pelo menos até certa altura, depois.... isso já é outra historia....
 
Eu gostava muito do meu prédio.... e dá-me cá umas saudades tão grandes cada vez que lá vou....

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Os "Cinco"

Antigamente (já pareço uma cota) as nossas brincadeiras eram muito engraçadas. Tudo o que víamos na televisão (o mesmo é dizer  na RTP1), nós imitávamos. Ainda me lembro de fazer de conta que era a Maya, na serie "Espaço 1999" e de franzir as sobrancelhas para me "transformar" em alguma coisa e de colocarmos umas caixas de fósforo, com uma caneta de lado, presas nas calças, para fazer de conta que eram os telemóveis da época. Um dia hei-de escrever sobre isto....

Hoje vou falar sobre uma brincadeira que eu e os amigos do prédio costumávamos fazer. Esta era uma brincadeira que, normalmente, era realizada à noite. Muito raramente a fazíamos de dia. E porquê? Para não sermos descobertos, claro que está!

Mas, então, em que consistia era brincadeira? Havia uma serie que nós gostávamos muito de ver na tv que se chamava "Os cinco" e que contava a história de quatro amigos (adolescentes) e um cão, que desvendavam coisas. Ora, na época, aquilo era algo maravilhoso e não perdíamos nenhum episódio. Havia um mocinho loiro, que era o mais bonito (e com o qual nós as miúdas delirávamos), um outro rapaz mais nerd, uma menina de cabelo castanho (que era a mais inteligente) e a mocinha loira, que era a mais bem apessoada. Por fim, havia o quinto elemento que era o cão, o Tim. Ora, para brincar aos cinco, tínhamos no mínimo de ser cinco miúdos. Quando havia mais, os que sobravam eram os salteadores ou quem nós tínhamos de descobrir. Mas normalmente éramos só nos os cinco. Não esquecer que esta brincadeira realizava-se à noite, de preferência depois do jantar. Porquê? Para sermos menos miúdos (porque os outros ficavam a ver a novela) as mães já não "chateavam" para irmos para a mesa e, principalmente, porque a essa hora, podíamos investigar à vontade sem sermos apanhados.
 
E como fazíamos? Bem, como tudo na época, era decidido ao Pim, pão, pum. Era escolhida uma personagem de cada vez. Quem sobrava, fazia de Tim. Mas este não era um papel qualquer. Aliás, este era um papel muito ambicionado. Tínhamos que pôr uma corda ao pescoço e andar de quatro. E tínhamos de cheirar e, de vez em quando, alçar a perna para dar mais realismo à personagem. Quando se fazia de loira, tínhamos de ter alguns tiques de peneirenta, porque o papel assim o exigia. Quando fazíamos de moça esperta, usávamos uns óculos para parecemos inteligentes.
 
Mas afinal, o que é que investigávamos? Tudo. Quando eu digo "tudo" é mesmo "tudo". Normalmente, íamos espreitar os vizinhos na hora do jantar. Víamos o que tinham jantando, como se portavam à mesa, o que bebiam, como estavam vestidos, vigiávamos os vizinhos a fumar, ouvíamos as conversas, ....., mas o que gostávamos mais, era de ir assustar os vizinhos. Principalmente, a velhota que vivia e falava sozinha. Isso é que era fixe. Às vezes, ela estava zangada e falava mais alto e a gente ria-se. Ela dava conta que estávamos nas escadas do prédio, abria a porta da cozinha e mandava vir connosco. E a gente ria-se e escondíamos-nos. E voltávamos à carga. Ela ficava danada. O nosso objetivo estava cumprido! Éramos mesmo bons!!!!

No prédio, havia duas velhotas solteiras. Essa vivia sozinha. A outra vivia com o irmão e com a irmã. Todos velhotes e todos solteiros. Mas essa não a assustávamos, porque ela amiga: dava-nos rebuçados da Régua. À hora do almoço, ficávamos no portão do prédio à espera dela. Quando a víamos chegar, púnhamos um sorriso de orelha a orelha e oferecíamos a nossa ajuda. A irmã dela andava de cadeira de rodas e nos ajudávamos a leva-la para o primeiro andar. Era um trabalho pesado porque o prédio não tinha elevador. Mas, no final, ela sempre nos dava um rebuçado da Régua. Era amiga! Quando não vinha com a irmã dela e vinha sozinha, oferecíamos os nossos serviços para levar a carteira dela. O resultado era o mesmo: um rebuçadinho já cá canta! Às vezes, ela estava de mãos largas e dava-nos uma mão cheia de rebuçados; outras vezes, não tinha rebuçados para dar e dava umas moedas. Íamos comprar chiclas da Gorila. Era bom na mesma!

Bem, continuando....
 
Mas as rusgas não se limitavam ao prédio. Não!! Também tínhamos outros lugares para serem inspecionados. Havia um vizinho que tinha uma macaco numa jaula e, quando nos sentíamos audazes íamos lá assustar o bicho, que virava fera e fazia barulho contra as grades da jaula. Lembro-me de uma vez, estava mesmo escuro e fomos lá dizer boa noite ao animal (;P) e apanhamos o maior susto das nossas vidas. O vizinho tinha-se escondido no meio do jardim e ficou à nossa espera. Quando nos viu gritou com uma voz cavernesca: "Quem está aí?" Ai, que me ia dando uma coisa....desatamos a fugir. Nessa noite, a brincadeira acabou mais cedo. Tínhamos de ir para casa para arranjar o mais rápido possível um álibi, caso o vizinho nos acusasse.

Certa vez, a mocinha que estava a fazer de cão, teve um percalço. Nessa noite, ela foi "escolhida" porque estava vestida com um macacão de veludo azul escuro. Ela exigiu ser ela a fazer de Tim. Fiquei danada. Só porque tinha um macacão.... para a lixar, eu é que segurei a trela. Eu dizia onde é que ela tinha de cheirar, o que tinha de fazer, .... ;) Mas a fulana começou a inventar que lhe doía a barriga. Que nojo.... bem, lá a deixamos ir à casa-de-banho e ficamos à espera. Xiça, ela nunca mais aparecia. Fui ver o que se passava. Chamei, chamei por ela e nada. Raios, onde se meteu? Ganhei coragem e fui tocar a campainha. Não esquecer que era a hora da novela! Não se podia tocar à campainha a essa hora. Bem, veio a irmã dela; a mãe ficou em frente ao aparelho. "Ela agora não pode ir brincar. Está na casa-de-banho." Depois de muita insistência, lá consegui entrar e fui ter com a moça. Estava a tomar banho. O pior era o cheiro!!!! O meu cão estava com diarreia!!!! Como estava de macacão não teve tempo para o tirar e borrou-se toda...

Quando havia obras é que era bom. Estavam duas casas a ser construídas e nós íamos para lá. Ainda hoje o cheiro a cimento traz recordações desse tempo. As casas tinham andares diferentes e isso dava para sermos miúdos muito criativos. Escondíamos-nos e alguém tinha de nos encontrar. Durante algumas semanas a nossa rua parecia uma trincheira. Estavam a fazer o saneamento. Íamos para o meio do buraco, tínhamos umas lanternas, e andávamos por ali. Ficamos todos sujos!!!! Era mesmo fixe. Que brincadeiras malucas que fazíamos. Éramos tao felizes. Nunca queríamos ir para casa. Era sempre cedo!!!! Queríamos era brincar!!!!!

 

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Um certo penteado...

Ao longo da minha vida, mais ou menos, fui mantendo o mesmo corte de cabelo. Ora escadeado, ora liso, ora com repa (franja), ora todo do mesmo tamanho, ora curto, ora comprido, ...como veem sempre o mesmo estilo. Mas um dia, ainda uma teenager inconsciente e decidi arriscar e mudar o look. Importante será dizer, que a cena passa-se nos anos 80!!!!

Se havia coisa que eu gostava de ver e desejava muito ter, era o cabelo ondulado: esticadinho da nuca até meio da cabeça e depois uma pequena ondulação nas pontas. Não parece difícil, pois não? Bem, esperei algum tempo até encontrar uma imagem numa revista que mostrava exatamente o que eu queria. Combinei com a surelina e, após ter juntado algum dinheiro e a minha mãe ter patrocinado o restante, lá partimos nós numa viagem de troley até à Baixa. Sim, porque não ia arriscar este penteado numa cabeleireira qualquer ao pé de casa... Após ter andado a fazer diversos orçamentos em alguns salões de cabeleireira da baixa, encontrei um, que até se autointitulava de Instituto de Beleza, e lá fomos nós superconfiantes. Como eu viria linda, só pensava. Finalmente vou ter o meu penteado de sonho....
 
Chegamos lá e eu voltei a mostrar a foto com o meu penteado de sonho. Estava tão feliz! Afinal, estava num Instituto de Beleza!!!! Elas sabem o que fazem, pensava eu. A mulher começou a dizer que precisava de qualquer coisa, que eu não percebi bem o que era, mas era algo parecido com umas  "luzes". E eu só pensava: Eu vou sair daqui maravilhosa!!! Voltei a perguntar quanto é que me ia custar, não fosse eu ter que ficar ali a lavar cabeças para pagar o que ficaria a dever. 1500 escudos, disse ela. Nos dias de hoje 7,5€. Pensam vocês: barato; não não era! Era muito caro na altura. Não se esqueçam que foi no século passado e nos anos 80. À cerca de trinta anos atrás!!!! Bem, se levam tão caro é porque são mesmo bons, pensava eu. E lá começamos.

A surelina foi a primeira. De repente, deu-me um frio no estômago, mas achei que não era hora de desistir e sentei-me na cadeira. Começaram a por os bigoudis. Eram tantos.... finalmente, terminaram. Fiquei um tempão com aquelas coisas na cabeça. Depois puseram um liquido que deitava cá um cheirete.... A seguir fui lavar a cabeça. Eu só pensava: que linda que eu devo ficar! A surelina já estava pronta. Que gira! Eu também vou ficar assim. Quando penso que me vão secar o cabelo com o secador, é então que me mandam para as tais luzes vermelhas.

É importante referir que o Instituto de Beleza tinha uma montra enorme de vidro e as pessoas passavam e sempre olhavam lá para dentro. Como entretanto ficou escuro e as luzes do salão estavam acesas, via-se tudo lá para dentro. Aquela coisa estava demorada. Olhava para a surelina e ela parecia que estava bem (pelo menos, não me dizia nada). Reparei que as pessoas que passavam pela montra ficavam a olhar. Deve ser porque está lindo, está na moda, pensava eu.  Eu confesso que me comecei a sentir cansada e só me apetecia ir embora com o meu penteado lindo.

O que aconteceu a seguir é algo que para o qual eu não estava preparada e tive muita dificuldade em gerir....

Quando, finalmente, a mulher diz que está pronto e me tira daquelas luzes, eu pude olhar para o espelho e ver o meu estado.... horrível!!! Que porcaria era aquela em cima da minha cabeça???? Eu olhava para a surelina (que agora eu entendo porque não dizia nada) e para a cara da mulher, para o espelho, e para a montra.... alguém que me tire deste filme!!!! Encheram-me a cabeça de caracóis. Acho que usaram os bigoudis todos que tinham em armazém!!! Até na franja me puseram caracóis!!!! A franja que era pequena  até aos olhos, ficou um tufo em cima da testa. Eu parecia uma mistura de Tina Turner e Rei Leão. Pessoal, eu tinha o cabelo liso horas antes e agora parecia aquela cena em que o Simba, já grande, estava a tomar banho com o cabelo todo lambido e dá umas sacudidelas e aparece uma enorme juba!!! Só me apetecia chorar.... eu disse à mulher que não queria tantos caracóis. Eu só queria o meu cabelo ondulado.... Queria que me levassem a cabeça e me esticassem o cabelo. Que horror!!!! Ainda por cima, só diziam que eu estava bem, os caracóis ficaram muito bonitos e que era apenas uma questão de me habituar.... sabem o que era? Elas estavam a despachar-me porque estava na hora de fechar e elas queriam ir embora. Eu também queria.... mas não assim...

Se calhar ela tem razão e tenho de me habituar, dizia eu para dentro... perguntei quanto era. 7500 escudos. O quê???????? Mais do dobro que me tinham dito. Porque levei não sei o quê e mais não sei o quê. Felizmente, tinha levado as minhas economias e consegui pagar. Se fosse hoje, devia ser qualquer coisa como 100€!!!

Saímos porta fora e fomos para a paragem. As pessoas olhavam para mim e arregalavam os olhos. Eu só fazia um esforço enorme para não chorar. Lá veio o troley....ó não, dois andares... significava que tinha que subir as escadas e ir para a parte de cima. E lá fomos nós. A surelina foi à frente. Na parte detrás seguiam uns moços que quando a viram fizeram uma festa. Agora imaginem a minha entrada. Quando se subia as escadas o que as pessoas viam em primeiro lugar era a cabeça. Ora no meu caso, era o penteado..... it's a plane, it's a bird, it's superman? Nooooooo, it's me, with a penteado!!!!! Eu já não me recordo se houve silêncio ou risada, mas aposto mais na segunda, porque se fosse eu a ver esta cena, de certeza que me ria.  Aguenta, mulher, que estás a chegar a casa.... pensava eu, para me acalmar.

Finalmente, cheguei ao conforto do lar. Abro a porta e dou de caras com a gata Tareca. Bem, a pouca dignidade que me restava fugiu. Fugiu a dignidade e a gata. Estava confirmado: eu estava uma autentica parola!!!! Desato a chorar. Mas eu quando digo "chorar" é chorar mesmo. Eu pensei que me ia dar alguma coisa. A minha mãe chega a casa e fica a olhar para mim. Deve ter pensado: foi para isto que me pediste dinheiro????? E não é que a surelina que estava tao gira começa a reclamar do cabelo dela? O quê? Ela está tola.  A meio da noite, já não aguentando mais, fui lavar a cabeça e pior: penteei os cabelos. Isso não se faz assim com as permanentes. Ficou não sei quantas vezes pior. Eu não conseguia parar de chorar. A minha mãe teve de me dar um calmante para eu conseguir dormir....lexotan pela goela abaixo.

Nos dias a seguir eu não saí à rua, nem me chegava à janela. Fiquei enclausurada em casa um mês!!!! Depois de muita negociação com a minha mãe, lá a consegui convencer a patrocinar uma desfrizagem. Havia apenas um problema: eu tinha de sair de casa para ir ao cabeleireiro. Como? Como não tinha um chapéu, fui de kispo, com o carapuço na cabeça. O problema é que era verão.... eu enfiei a juba debaixo do carapuço, puxei os fios e lá fui eu. No autocarro, as pessoas perguntavam se eu não tinha calor e eu dizia que não. Parecia que nunca mais chegava ao cabeleireiro.

Quando lá cheguei e antes de tirar o carapuço, expliquei à senhora o que tinha acontecido. Agora vocês não imaginam a cara dela quando eu tirei o carapuço..... as empregadas, essas riram-se; mas a senhora não (não de forma descarada como as outras, mas controlou-se). Bem, lá começamos a fazer o tratamento de cura. Aquilo também cheirava mal, mas depois de lavar a cabeça e de ver o meu cabelo esticado, fiquei mais animada. Como o cabelo estava um pouco queimado (se calhar até daquelas luzes) e de eu ter tentado esticar com o secador (antigamente ainda não havia as abençoadas placas), ela teve de cortar um pouco. Mas se eu pensava que o meu pesadelo tinha terminado, afinal, ia começar uma nova fase. É que a senhora empolgou-se de tal forma a cortar a parte de cima do cabelo, que me deixou quase careca.... estão-se a rir? Pois é, o cabelo estava tão fino, que à mínima brisa levantava e via-se a careca. "Acho que cortei demais em cima", disse ela. Mas eu estava tão feliz com o meu cabelinho esticadinho que nem me importei. Só quando cheguei à paragem e reparei que as pessoas olhavam disfarçadamente para esta zona problemática da minha cabeça, é que eu tomei a consciência que tinha de fazer algo. Quando cheguei a casa, fui-me olhar ao espelho e pensei: "Minha querida, tu já passasse por tanto!!!! Que luta, que prova, que tribulação!!!! O melhor é arranjares uma solução." Sabem qual foi? Agarrei a franja, puxei-a para trás e segurei-a com um gancho. Pronto! Assunto resolvido. Voltei a ser linda!!!!!

domingo, 3 de agosto de 2014

A pior queda de sempre....

 
Ontem contei-vos algumas peripécias que resultaram em grandes gargalhadas pela minha parte. Hoje vou-vos falar de uma queda, que poderia ter sido fatal, mas que, apesar de tudo, tem servido para eu dar umas gargalhadas bem dadas.
 
Era eu uma mocinha com talvez uns dez aninhos. Já nessa altura, aconteciam coisas mirabolantes. Como andava sempre descalça enfiava pregos, vidros e tudo o mais que estivesse no chão. Ficaram as cicatrizes para memória futura. Mas, para além deste hábito, ainda não perdido, de andar descalça, era uma autêntica maria-rapaz. Por isso, subir às árvores, fazer tropelias, assustar a vizinha velhota que morava e falava sozinha, não era novidade para mim. Ainda hoje não entendo porque diziam que me portava mal... mas isso é outra história.... Como os vizinhos da minha idade eram uma cambada de medricas e eu uma corajosa assumida, só tinha a lucrar: nunca tive uma bicicleta, patins, skate, mas sei andar nisso tudo porque os totós tinham cagufa, eu pegava nas coisas e lá ia eu. Caía, levantava-me. Não ficava a chorar como eles. Totós!!!! Foi numa dessas cenas em que eu tive que provar que tinha coragem que eu sofri uma queda que poderia ter sido fatal. Passo a contar:

O vizinho tinha feito obras no estabelecimento dele e nas traseiras fez duas fossas para receber os resultados das idas à casa-de-banho. As fossas já estavam algo cheias. As obras que tinham agora resumiam-se às tampas das ditas cujas. Eram tampas de cimento que iam ser postas nos buracos das fossas. Como ainda não estavam prontas, foram colocadas tábuas de madeira a tapar esses buracos. Ora, aqui a artista o que vai fazer? Nada demais, pensei eu. Que mal faz andar a passear para a frente e para atrás pelas tábuas??? Estava eu ainda nestes pensamentos muito acertados, quando, de repente, eu sinto-me a descer como um foguete em direção ao fundo da fossa. Eu não sei como, só me lembro de me agarrar à parte de cima com todas as forças que eu tinha. Eu não podia largar as mãos, mas também sabia que eu não ia aguentar muito tempo. Tremia da força que fazia para me manter com a cabeça fora da fossa. O corpo estava mergulhado na trampa de anónimos. Eu só pensava: "Vou levar uma coça!!!" Comecei  a gritar, achando que era melhor levar umas palmadas do que morrer no meio dos cocós!!!  Um vizinho mais novo que eu, com quem tinha trocado o primeiro beijito da minha vida, veio em meio socorro. Devo ter pensado: "Não devo ter beijado mal!". O moço deve ter ficado com medo de me perder. Veio a correr e puxou-me com toda a força que tinha. Na altura, eu era magrinha, com as costelas à mostra, mas éramos miúdos. Ele deu o seu melhor e eu tentei subir e após algum tempo, conseguimos!!!! Eu saí dali. Choramos os dois, mas não o pude abraçar porque estava toda porca. Ele ajudou-me a ir para casa. Eu nem podia andar. Eu tinha a roupa a pingar de sujidade. Os bolsos deviam estar cheios de cocós. E o cheiro????? Bati à porta. Ainda era cedo para a minha mãe estar em casa, mas a minha irmã estava de certeza. Quando ela abriu a porta, ficou a olhar para mim com uma cara que eu pensei: "Bem, vou levar desta e da minha mãe!!!!" A chorar contei-lhe o que se tinha passado. O raio da moça nem sequer se desviou da porta para eu passar. Não me deixou entrar. E mandou-me tomar banho no tanque. A água estava fria e eu cheirava mal, muito mal. Só depois de umas quantas mangueiradas é que a fulana me deixou entrar. À noite levei (já não me recordo bem, mas de certeza que levei, porque eu estava sempre a apanhar).

E foi assim a minha pior queda, que poderia ter sido fatal.

Por aquilo que vos contei, vocês acham que eu me portava mal???? Não entendo.....

sábado, 2 de agosto de 2014

Propensa para as quedas

Quem me conhece sabe que eu tenho uma tendência (talvez genética) para que coisas estranhas me aconteçam. Uma delas: tenho a mania de cair na rua, em casa, na praia, ....eu cá não sou esquisita!
 
Hoje partilho com quem lê o meu blog alguns momentos deprimentes da minha existência e espero que vos façam rir como a mim fizeram (e ainda fazem!). 
 
Ora bem, como o reportório das quedas é um pouco extenso, selecionei: duas quedas na rua, uma na praia e outra em casa. 
 
Vamos então por partes e começo pela rua. Estávamos nós muito felizes, por finalmente termos vendido o nosso apartamento e vínhamos a conversar pelo passeio fora. Eu vinha à frente, do lado da estrada com o mais velho e ele vinha atrás com o mais novo. Não me recordo o que dizíamos, mas de repente o meu pé deu uma passada e nunca mais consegui sentir o chão. Parecia um filme visto em câmara lenta. Senti-me desequilibrar e sabia que só ia escapar à figura triste se rapidamente alcançasse o chão. Mas cadê o chão???? Numa tentativa de me segurar, tentei agarrar o mais velho. O moço foi violentamente esmagado contra a parede. Parecia que tinha sido encostado à parede numa rusga policial. O moço nem se mexia, coitado. Entretanto, eu tentava agarrar-me a qualquer coisa que conseguisse amparar este corpo super-volumoso (mas lindo!). O que se passou a seguir foi uma cena hollywoodesca. Eu andei aos solavancos alguns metros a ameaçar cair, mas raios, eu nunca mais caía. Até a mim me estava a enervar. O mulher, cai de uma vez! Qual quê?!!! Consegui levar as mãos ao chão. Pensava eu que parava, mas parecia que estava a gatinhar. Recordo-me de olhar para o lado e de ver os carros passarem e as pessoas estarem a olhar. Fixei um homem que olhava pela janela com uma cara tão assustada e surpresa por aquela cena que me deu uma vontade enorme de rir. Finalmente consegui parar. Pois se pensavam que eu ia ficar envergonhada, ....eu desatei a rir, às gargalhadas. Eu ri tanto, tanto, e não conseguia parar de rir. As pessoas perguntavam se eu estava bem e ainda me dava mais vontade de rir. As pessoas acabavam também por rir. Fiquei com as mãos esfoladas e fomos a um centro comercial para ir à casa-de-banho. Eu ainda ria. Cada vez que me lembrava do momento em que nunca mais caía no chão, ainda mais vontade de rir me dava. Depois fomos a um café e quando a mocinha me veio perguntar o que é que eu ia tomar, desatei a rir às gargalhadas e ele teve que contar o que se passou. Ficou admirada por eu me rir da situação. Eu só imaginava, eu ver isto a acontecer a alguém, eu não ia conseguir parar de rir, quanto mais que aquela cena aconteceu comigo. Lol. Vocês não se riam? Eu estou a escrever isto e já me ri que me fartei!!!
 
 
Outra cena na rua. A nossa casa está situada no lugar mais alto da vila, por isso quando temos de ir à parte comercial é sempre a descer. Faz-me lembrar o avô da Heidi, que tinha de descer a montanha para ir à aldeia! Bem, continuando. Como é a descer, eu vou sempre a travar com os dedos dos pés. Quando chego lá em baixo, os meus pés estão quase fora das sandálias e os dedos vermelhos de virem a travar. Eu ia pelo caminho e só pensava que ia cair a qualquer momento. Ainda por cima a estrada é de paralelos, o que a torna ainda mais escorregadia. Será que eu podia ter caído na descida? Sem dúvida alguma. Mas onde foi que eu fui-me esbardalhar???? Quando já estávamos na reta... Tínhamos acabado de atravessar a estrada e dei um passo no passeio (também de paralelos) quando torço o pé e fico completamente espalhada no chão. Foge, não podia ter escorregado na descida? Não podia ter caído num sitio onde não houvesse lojas? Pessoas? Fui cair em frente ao café onde vão os professores da escola dos meus filhos. Pensei: "ui, que vergonha!", mas logo a seguir desato a rir como uma desalmada. Como é que eu caí? Vínhamos de mãos dadas e mesmo assim caí!!! Mas não  largamos as mãos!!!! Quando entramos na mercearia, é claro que eu ainda ria e lá tive que contar o que aconteceu. Desculpem lá, mas a cara de estranheza das pessoas ainda me dá mais vontade de rir!!! Porque não? Ia chorar? Prefiro rir.
 
Uma das muitas quedas que já sofri na praia, aconteceu num dia em que levei os miúdos e as sobrinhas. Estávamos a tentar entrar na água congelada e eu, numa atitude mais atrevida, em que a água me dava pelos joelhos, decidi ir um pouco mais além. Ir eu fui, mas quase que ficava lá. Veio uma onda de uns quantos centímetros que conseguiu me derrubar. Eu não estava preocupada com a queda, mas é que a onda trouxe uma tonelada de areia que se apressou a entrar pelo biquíni adentro com um atrevimento tal, que se enfiava por todo o lado. Alem disso, a força da onda provocou uma cena de quase nudismo involuntário. Digamos que algumas partes do meu corpo não costumam ver a luz solar e, por isso, não são zonas bronzeáveis. O problema também é que uma certa sobrinha mais nova, veio em meu socorro e deu-me a mão. Ora,  eu estava numa situação que não tinha mãos a medir: tinha que segurar o biquíni, tinha que tapar as vergonhas, além disso, tinha de me tentar levantar. E não conseguia e ela não me largava. Enfim, quando lá me consegui levantar, tinha um peso enorme na parte detrás do biquíni que nem conseguia andar. Lá tive que mergulhar e fazer uma cena de striptease para os peixes.
 
E, por fim, a queda em casa. Esta cena foi mais recente. Eu tenho um carrinho de mão velho que enchi de chorões para decorar o alpendre. Eu ia a passar e, sem querer, fui contra uma das pegas. Ao tirar a perna, dei com a outra na outra pega, desequilibrei-me e caí no chão. Chamei pelo pessoal... nada. Chamei que me fartei. Só apareceu a cadela que ficou a olhar e a pensar: "O que será que ela está a fazer no chão?" Bem, como ninguém apareceu, levantei-me e fui embora a mancar. No dia seguinte, estava com duas enormes pisaduras, bem pretas.
 
Muitas mais cenas tinha para contar.... mas isto já vai longo.
 
Por isso, meus amigos, se me virem chegar, saiam da frente que eu posso cair....